A série fotográfica "Escavar o escuro" foi desenvolvida em três litorais distintos, Imbassaí (Bahia), Itacoatiara (RJ) e Agua Blanca (Oaxaca, México) entre 2018 e 2020. Seguindo uma narrativa fantástica e operando a partir de uma dupla posição – a de estar atrás e na frente da câmera ao mesmo tempo – incursiono no breu da noite propondo dissoluções imaginárias do meu corpo no espaço, em relações de mímesis com a paisagem.
O ato fotográfico se dá a partir de uma dupla cegueira. Não ver pelo gesto de tornar-se objeto da própria captura, dar-se a câmera como imagem, perder o controle do olhar através da autoperformance realizada para a câmera. E não ver por uma questão ótica, pela ausência de luz. Fotografar cenas que apenas a câmera é capaz de revelar, que o olho não alcança. O duplo gesto, de fotografar e de performatizar, é concebido a partir da imaginação e dos sentidos, uma vez que a paisagem só é revelada após o clique. Por outro lado o trabalho se dá como uma expedição pela noite movida pela intenção de captura dos últimos resquícios de luz e brilho, que é conduzida por pequenas descobertas e intervenções com objetos de qualidade brilhante que guardam semelhança com o os astros e as luzes noturnas.
Em Exílio é estabelecida uma relação entre fotografia e autoperformance, em que o corpo atua exclusivamente para a câmera, distante do olhar direto do público. A encenação se presta à narrativa fotográfica, já parte da lógica bidimensional, do tempo estático e mudo. Fotografar sem ver a cena: é uma imagem da ordem do antes (imagem-projeção) e do depois (imagem ao acaso). Na formação da fotografia, o sensor da câmera é invadido pela luz, sem a direção de um olho ela surge de um instante anônimo, na abstenção do sujeito. Não há caça, não há um ver-decisivo. É como um tiro ao contrário. Não é a câmera que vai de encontro ao objeto, mas um corpo que se atira sobre o disparo, corpo-projétil.
EXILE
In Exilio's images a relation is established between photography and autoperformance, in which the body (of the artist) acts exclusively for the camera, away from the public gaze. To photograph without seeing the scene: it is an image of the order of before (image-projection) and of the after (image at random). In the formation of photography, the camera sensor is invaded by light, without the direction of an eye, it arises from a anonymous instant, in the abstention of the subject. It's like a shot backwards. It is not the camera that goes against the object, but a body that throws itself on the shot: body-projectile.
Fotografia digital
2018
A partir da experiência do meu corpo - deslocado e deslocando-se - na ilha, traçando percursos entre mar-cidade-floresta, fabulo um novo paraíso, tensiona- do já no título pela pergunta que o instaura. A imagem edênica é desconstruída no ensaio pela atmosfera densa, escura e dessaturada, rompendo com os clichês do éden caribenho; contrapõe-se ao paraíso privatizado - imaginado nas Américas - onde desembarcam centenas de turistas por dia em faixas pagas de mar azul turquesa. É nesse percurso pela ilha que crio linhas de experimentação desinvestindo-me de cartografias fixadas de sentido para então fabular um mundo outro.
WHAT TIME IS IN PARADISE?
From the experience of my body - dislocated and moving - on the island, tracing paths between sea-city-forest, I fame a new paradise, already stressed in the title by the question that establishes it. The edenic image is deconstructed in the assay by the dense, dark, and desaturated atmosphere, breaking with the clichés of Caribbean Eden; contrasts with the privatized paradise - imagined in the Americas - where hundreds of tourists per day are paid in pairs of turquoise blue sea. It is in this journey through the island that I create lines of experimentation, divesting myself of fixed knwoledge and then fable another world.
Das formas de desenterrar o céu é uma microperformance feita para a fotografia, na qual é produzida uma intervenção com espelhos na paisagem, fabulando uma situação fantástica.
HOW TO UNEARTH THE SKY
This is a microperformance made for photography, in which an intervention with mirrors is produced in the landscape, making a fantastic situation.
Em Estâncias, o corpo vai ao encontro do fora. Desloca-se até encontrar o ponto ideal que conduz à imagem. Ele caminha só, como quem parte em êxodo, quem parte em direção ao infinito. Instala-se no espaço para produzir potências e habitar o ilocalizável: um cupim solitário, um lago seco, a entrada de um abismo qualquer, um pedaço de terra, um rastro animal, um deserto, uma pedra, uma onda. Associa-se ao todo sem se desfazer de sua estrutura orgânica. É invadido pela imensidão e lhe dá a sua medida. Habita o espaço com suas intensidades definindo uma nova paisagem, relativizando-a.
ESTÂNCIAS
In Estancias, the body walks towards the unknown infinity. She walks alone, as one who leaves in exodus. She installs itself in space and inhabit the unoccupable: a solitary termite, a dry lake, the entrance of any abyss, a piece of land, an animal trail, a desert, a stone, a wave. She associates herself with the landscape. She is invaded by the immensity and gives it its measure. defining a new landscape, relativizing it.
A obra é constituída de uma série de vídeos consecutivos. Em cada um deles acontece uma microperformance, em que o corpo é acionado por forças externas da natureza que o tocam em seus deslocamentos. O corpo aqui torna-se matéria-prima da própria experiência e se deixa afetar, praticando o abalo de si, o perder-se e a potência de uma auto-invenção. Nele reverberam o vento, a luz, a temperatura e a vertigem que essas grandezas provocam.
CATCHER FOR IMPAPABLE GREATNESS
Year: 2016
Length: 7'08"
Size: 16x09
The work consists of a series of consecutive videos. In each of them happens a microperformance, in which the body is activated by external forces of nature that touch it in its displacements. The body here becomes the raw material of the experience itself and is allowed to affect, practicing the the loss of self and the power of self-invention. In it reverberate the wind, the light, the temperature and the vertigo that these magnitudes cause.
Canito é um ensaio resultante de um encontro. Da crença de que cada ser se revela apenas pela luz que emana. É descrição poética de uma experiência sensível. Um trabalho que relaciona corpo, vibração, experiência e transe. Um personagem que nasce da fusão de duas subjetividades, da história que teimava se inventar entre nós. A imagem cumpre seu papel, e ocupa o silêncio do momento em que as palavras desaparecem. Fotografei o que não podia dizer. Os momentos em que Canito se dissolvia aos meus olhos e se tornava vibração. Canito não tem limites, ele transborda em sua performance, encarna uma presença em potência total, um ser completo em transcendência.
CANITO
Canito is a work resulting from a meeting. It is a poetic description of a sense experience. A work that relates body vibration, and trance experience.
Canito is a character born from the merging of two subjectivities. The images fulfills its role, and occupies the silence of the moment when the words disappear. I photographed what I could not say.
Canito has no limits, he overflows into his performance, embodies a presence at full power. His scream is a protest, is a purely visual sound that echoes and hurts forever beholder.